Era de redução nas armas nucleares está chegando ao fim, diz instituto

Estudo aponta aumento de arsenais operacionais, modernização acelerada por potências e risco de corrida tecnológica com uso de inteligência artificial. Potências estão modernizando e aumentando seus estoques, diz Instituto Internacional de Estudos da Paz. Mísseis são exibidos durante um desfile militar em Pyongyang, na Coreia do Norte, em 8 de fevereiro de 2023
KCNA via Reuters
A tendência de redução no número de armas nucleares, que vinha desde o fim da Guerra Fria, começou a se reverter, disse neste domingo (15) o Instituto Internacional de Estudos da Paz (Sipri, na sigla em inglês), que há décadas pesquisa esses arsenais. .
Segundo o novo levantamento do instituto, em janeiro de 2025 o mundo tinha 12.241 ogivas nucleares, 9.614 armazenadas em estoque militar para potencial uso.
Em relação a 2024, houve uma redução no total de ogivas, que era de 12.405, mas o número de dispositivos em estoque militar aumentou – era 9.585 um ano atrás.
"A era da redução no número de ogivas nucleares, que durou desde o fim da Guerra Fria, está chegando ao fim", informou o instituto. "Ao invés disso, nós vemos uma clara tendência de aumento nos arsenais nucleares, retórica nuclear mais dura e abandono de acordos de controle de armas."
EUA e Rússia estão modernizando armas, diz instituto
As potências nucleares, especialmente Estados Unidos e Rússia — que representam cerca de 90% das reservas mundiais —, começaram a modernizar suas armas e "estão adicionando novas versões", afirmou o Sipri.
Rússia e Estados Unidos dispõem de "vastos programas de modernização e substituição de suas ogivas nucleares", indica o relatório.
Desde o fim da Guerra Fria, as antigas ogivas nucleares tiveram, em geral, uma desativação mais acelerada do que a implementação de novas armas. Isso levou a uma diminuição do número total de ogivas.
Essa tendência pode se inverter nos próximos anos, de acordo com o instituto.
"O que já estamos observando é que o número de ogivas nucleares operacionais começa a aumentar", declarou à agência AFP Dan Smith, diretor do Sipri.
China amplia arsenal de ogivas
A China é uma das potências que começou a aumentar suas ogivas nucleares operacionais. Segundo cálculos do instituto, Pequim possui cerca de 600 ogivas nucleares, após adicionar 100 novas armas tanto em 2023 quanto em 2024.
"A China aumenta regularmente seu arsenal nuclear", afirma Smith. "É possível que atinja 1.000 ogivas dentro de sete ou oito anos."
O estudo indica que o Reino Unido não aumentou seu número de ogivas em 2024, mas, considerando a decisão tomada pelo país em 2021 de elevar o limite de 225 para 260 ogivas, é provável que esse número cresça no futuro, acrescenta o documento.
Embora o arsenal da França permaneça estável em cerca de 290 ogivas, "seu programa de modernização nuclear avançou em 2024", afirma o Sipri.
Índia, Paquistão e Coreia do Norte
Índia e Paquistão "continuaram desenvolvendo novos tipos de vetores de armas nucleares em 2024".
No início de 2025, a Índia dispunha de uma "reserva crescente" de cerca de 180 armas nucleares, enquanto o arsenal do Paquistão se mantém estável em aproximadamente 170 ogivas.
O programa de armas nucleares da Coreia do Norte está "no centro de sua estratégia de segurança nacional", segundo o relatório, que estima seu arsenal em cerca de 50 ogivas, podendo chegar a um total de 90 ogivas no futuro.
Israel, que não reconhece oficialmente possuir armas nucleares, também estaria modernizando seu arsenal, que o Sipri estima em cerca de 90 ogivas no início deste ano.
Corrida é tecnológica e não se limita a números, diz instituto
A nova corrida armamentista nuclear que se aproxima não se refere apenas "ao número de ogivas", adverte Smith.
"Ela será altamente tecnológica e ocorrerá tanto no espaço quanto no ciberespaço", segundo o especialistas, já que os programas para controlar e guiar as armas nucleares também se tornarão um setor competitivo.
O rápido desenvolvimento da inteligência artificial provavelmente terá um papel importante, inicialmente como complemento aos humanos.
"A próxima etapa seria passar à automação total. Esse é um passo que jamais deve ser dado", afirma Smith.
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